Baco entre todos

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

NOSTALGIA





É, estou demorando um pouco para me acostumar com isso aqui. Não em como configurar tal lugar ou como postar/responder, não, não essas coisas. Outras, muitas outras. Como por exemplo, O Que postar, O Que dizer...
Em minha mente vagam tantas coisas, poemas escritos, poemas a serem escritos, críticas sobre falsos artistas, argumentações filosóficas, questões sociológicas, desenhos rabiscados, fotos de palcos acalantadores, performances eternas, comentários sobre filmes/livros, tantas coisas misturadas, que dificilmente sei por onde começar, ou pior, por onde continuar.
Hoje, último dia do ano de 2010, o que eu deveria postar?
Tenho 24 anos, passo a vida teatrando, desenhando, escrevendo, vivendo intensamente em um mundo doentio. Sobrevivendo em um sistema de ignorantes. Abrindo os olhos para uma sociedade que não aceita olhares profundo... Isso me faz lembrar de uma pessoa que sempre me apoiou, me ajudou, esteve comigo desde o começo e até hoje me leva rumo as estrelas... Uma mãe dedicada e uma mulher guerreira... Agora vocês conheceram uma singela homenagem que fiz para aquela que me carrega sob suas asas...
O poema que gerou uma das melhores performances que já fiz...




NOSTALGIA




Quieta, reflexiva...
Seu olhar corta as janelas atravessando a rua.
Mas não vê, nem ouve.
Apenas pensa...
O cigarro em sua mão direita,
Consuma-se sem um trago!


Apesar do conforto de sua poltrona
Do clima calmo do entardecer,
De sua casa estar arrumada,
De tudo estar em ordem,
Ela sente que algo está errado!
Mas o que?


Seus filhos estão criados
Os quadros na parede estão alinhados.
Suas roupas estão lavadas,
E o frio que chega com o entardecer, está do lado de fora.
O que será?


Seu penteado está perfeito.
Fez as unhas pela manhã
À tarde deu aula particular para alguns!
O que será?


Tem uma vida simples de fato,
Mas depois de sua aposentadoria as coisas melhoraram.
Tem sua biblioteca particular
e orgulha-se muito disso.
O que será então?


Pensa que pode ser a falta de energia no bairro.
Mas no seu íntimo sabe que não.
Como se o corpo respondesse à sua mente distante
Vagarosamente seus olhos baixam
E começam a encarar suas mãos... silêncio...
Quanto tempo ela não fazia isso?
Alguns anos.. décadas....


Ela observa cada linha,
Cada traço de sua pele.
Apaga o cigarro para melhor enxergar.


Agora vê como sua pele está esbranquiçada,
Enxerga veias, frágeis e delicadas,
Assim como todo seu corpo atual.


Apesar de suas unhas pintadas,
Está enrugada, envelhecida com o tempo...
Sem nenhum aviso,
Suas mãos viram-se
Deixando as palmas expostas.
Visualiza seus calos, já disformes.


Sentiu uma leve brisa percorrer a sala.
Junto com ela, veio a sessão de Nostalgia.
Lembrou-se do tempo que era jovem.
Nada muito além disso.
Sem rugas, sem marcas, sem filhos.
Apenas jovem.
Em busca de utopias e Revoluções.


Quantas vezes não assumiu para si os papéis de Olga, Anita, ou Clarisse?
Quantas vezes não brandiu a espada feminina?
Enfrentou e venceu seu pai, enfrentou o machismo.
Libertou e foi Liberta.
Pensou em quantos corpos aquelas mãos acariciaram.
Em quantos carinhos fez e recebeu de amantes e namorados!


Sentiu um momento de excitação extrema,
Pensou em seus momentos solitários e únicos,
Masturbando-se, tendo todo seu prazer particular.
Lembrou também de sua mais fiel amiga,
com a qual sempre mantivera relações íntimas.
Onde será que ela estará depois de tanto tempo?
Talvez em algum túmulo.... quem sabe...


De súbito, veio-lhe à memória detalhes de suas Revoluções
Sua luta contra tudo e contra todos.
Mas agora parece tão distante, longe
Enterrada em algum lugar remoto.
Mas sentiu saudades de quando
Assumia para si a voz de Olga Benário,
De quando lutava como Joana D´Arc,
Das vezes que amou as mulheres como Virgínia Woolf,
Ou de quando escrevia, assumindo Clarice Lispector.


Tanto tempo. Tanta Nostalgia.


Quando será que deixou tudo isso para trás?
Pode ser que tenha se apagado com o casamento.
Vieram os filhos.
Sentiu amor maior.
Mas apesar de sua luta ter ficado no passado,
Suas batalhas continuaram.


Casou-se por medo...
Medo...
Medo de...
Medo de morrer...
Medo de morrer sozinha...


OS filhos cresceram,
As guerras aumentaram...
RECLUSA DENTRO DE SUA CASA
PROIBIDA DE VIVER...
Sua rosa foi murchando.
Começou a envelhecer sem perceber.
Ela achou graça ter recordado disso.


Mas apesar de ter-se apagado,
Uma guerreira, sempre uma guerreira.
Ergueu-se outra vez
Com sua força,energia, magia, luz...
Libertou-se depois de décadas de repressão.


Naquele dia, via-se nela, um brilho já extinto.
Levou consigo seu único legado: os Filhos
Tanto tempo. Tanta nostalgia.
Os filhos casaram, e educam seus filhos.


E agora ela está ali.
Sentada.
Em silêncio.
Reparando depois de muito tempo, em suas mãos.
Reparando depois de tanto tempo, que ela existe.


Ela ainda ama.
Ela ainda vive.
Reparou-se, depois de anos, finalmente,
Que ela ainda era Mulher.



Vinicius Cassiolato

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Aguardo teu retorno

Mais um dia...


Descançando depois de um ano de conquistas, encontros inesperados, enfim, encontro-me no final de um ano em que voei muito alto, cruzando terraços de altos arranhacéus, driblando nuvens e constelações.
Está para se encerrar um ciclo que me elevou, deixando junto a mim bagagens empoeiradas e o gosto de Arte verdadeira, sem entretenimento ou ilusão de que está tudo bem.
Posso afirmar que perdi-me entre musas e sátiros, topei com Heróis e Deuses esquecidos... Fui acolhido e repelido...
Um ciclo que acalantou meus trabalhos e os levou para longe do meu lado, e agora roga nossa prece.
Apesar de estar degustando a sensação de gozo, do reconhecimento das linguagens artisticas que exersso, a realidade continua cruel e dolorosa. 
Acho inadmissivel que pessoa que se dizem artistas, não se atrevam a falar coisas erradas, sejam omissos, fecham os olhos para uma realidade absurda como essa. 
É, pode-se dizer que sou um ser meio revoltado com tudo, as vezes com todos.
Talvez que leia isso me entenda ou me odeie, as deixo para vocês outro fragmento de minhas viajens internas, que mescla-se com meus sentimentos e olhar para o mundo contemporâneo.



Aguardo teu retorno

à querida Darling de cada um
Olá minha querida.
A quanto tempo não te escrevo.
Estamos em dezembro de 2010!
É, mais uma virada.
Uma virada enlouquecedora.

O que fazes my Darling?
O que andas a pensar?
Na última vez que nos vimos
Tua correria seguia desenfreada.
Julgo eu que permaneces na mesma!

Eu?
Não sei.
É dezembro.
Época de se perder
em lojas e gastos.

Continuo o mesmo!
Ainda nego a televisão.
Consumo os mesmos cigarros.
Sigo amando a vida,
Admirando as estrelas,
Sendo o mesmo insano de épocas atraz.

Minha vida?
O que te dizer?
Não encontrei valores humanos ainda!
Muito menos consigo enxergar sob o véu.
Mas tento.
Realmente tento.
Não é fácil querida.

Continuam a me tratar com indiferença
Continuam sim,
Fingindo que sou um nada.
Sinto-me só as vezes.
Esquecido, esquisito.

Talves um nada
Aí lembro-me que sou eu
e reconforto-me novamente.
Sim, continuo o mesmo,
Tentando mostrar algo a alguém,
Coisas que por vezes são veladas.
Injustiças apagadas.

Escrevo poesias, peças,
Teço em palavras sensações homéricas.
Interpreto ainda,
subo no palco
interpretando sonhos e vozes,
Seres incontidos em mim.

Levo a arte aonde for
Abrindo olhos alheios...

Estou embrenhando-me na pintura,
hehe, pois é,
Mais uma linguagem,
Assim, tento mais uma vez falar
Através de suportes,
Dores, angústias humanas.

Quem sabe assim?
Não... Continuarei sendo...

É dezembro Darling,
Porém os valores são os mesmos!
Compras, guloseimas,
Falsidades máscaradas.
Folgas inumanas
apenas para manter a mão-de-obra.

Eles parecem não saber Darling,
Não saber estranhamente
simplesmente nada!

Da fome, da miséria,
da guerra oculta em suas mãos!

As estrelas brilham no cais noturno.
Por hora, em silêncio
Outrora, chorando!

O fim está próximo Darling
Eles ainda não enxergam!
Não como eu
Não como você.
Dois amantes enluarados
sob o céu outonal do passado.

No entanto, ainda assim
NÃO ENXERGAM!
Continuam a caminhar
sem entender para onde
ou ainda sobre quem caminham.

As máquinas estão a toda.
Operários seguem seu martírio,
O Bos segue seu Martini.
E eu vou seguindo meu cigarro.

É Darling
Ainda me enxortam das praças,
Todos tem medo da verdade.

Mais datas comemorativas,
Mais consumo,
Mais alimentos,
Mais fome,
Mais orgulho,
Mais Operários Construidos,
Mais presentes,
Mais morros,
Mais mortes,
Mais Gado,
Mais Mundo Admirável,
Mais VAlia...

Sabe Darling,
uma vez ouvi:
"Juntos somos fortes"
Agora penso somente em nós dois.
Imagino ainda aquele dia...
Ambos em um baile sem máscaras!

Penso ser um sonho... eu... um sonho...
Você me conhece,
sabe como eu sou nesse reino que não tem lei.
Uso palavras para tentar te...
Subo no palco para...

Porém eles se calam!

Continuam suas compras,
ainda permanecem os óculos escuros,
seguem suas vidas!

"Mais trabalho, mais riqueza"
Menos vida, mais bens...

O que eles ouvem?
Não sei Darling,
Carregam em si o dom de ocultá-los.

Sou louco minha querida.
O fim deste ciclo está próximo
Quero pensar,
Ser uma reflexão do que tornei-me.

Sinto-me só.
Desejo vê-la.
Sem sons repetitivos
Ou cercado de alienados televisivos.

Quero vê-la como eu sou
Sem máscaras
Isolado de momentos periféricos
Como um Louco.

Talves venha visitar-me!
Mas ja aviso querida
Aqui tudo é branco
Remédios vem e vão
Corredores infinitos aqui acham seu curso...

Sigo seus passos ao longe
Sigo seu olhar pelo horizonte...
Quero encontrá-la
Mas não tenho permissão!
Os abutres da soberba sabedoria proibiram-me de viver,
De ser quem eu sou.

Venha me ver...
Como eu sou...
Um louco...
Um louco com saudade...

O fim está próximo Darling.
Te Aguardo.
 
Vinicius Cassiolato
2/12/10

sábado, 25 de dezembro de 2010

INICIO DE TUDO -> ESCREVO

INICIO DE TUDO

Digamos que agora tenho um blog....
Deixarei vestígios de sentimentos por vezes apagados, marcas de dores humanas e sensações sublimes...
Farei (quem sabe) dessas páginas um diário de mim, como diria uma grande amiga Aline Romariz, ou fragmentos góticos citando antigos poetas.
Aqui unirei minhas linguagens e pensamentos... Desenhos, escritas, palcos...
de agora em diante tem o início...
Deixo para começar, a sensação do meu pensamento transfigurando-se em escrita...




ESCREVO


     
Escrevo com cuidado e carinho.
Algo que emana de dentro de mim.
Enlouqueço caso seja proibido de exercer tal arte!
Afogo-me dentro de mim.
Escrevo, interpreto, sinto o toque divino.

Quem se vê na posição de me impedir?
Quem conseguirá?
Crio o que vejo, mesclado com o que sinto.
Cada peça, cada poema.
Devo sacrificar-me.
De meu ventre, nascem minhas crias.
Desfiguradas pelos meus pensamentos
Mas que vêm da minha visão de mundo
De meu sangue, alma, vida, espírito...

Ao pari-la,
Abraço-a,  tomo-a com carinho de mãe.
Tão frágil, sensível, regurgitada.
Sento no tempo, o espaço pára.
Coloco-a em meu colo.
Dou-lhe formato
Dedico-me a sua vida!
Dou-me por inteiro!
Crio através de minha alma.
Deixo que os deuses incorporem em mim.

Teço seus cabelos.
Pinto seus olhos.
Dou-lhe meu corpo e minha carne.
Finalmente viva, madura, bela.
Tamanha felicidade me invade os sentidos.

Por fim, sopro sua espinha dorsal:
Dos céus vem o vento.
Balança seus cabelos
Como o Nascimento de Vênus.
Assim como uma criança recém nascida
Minha arte começa a descobrir o mundo.
Olhos, boca, mãos, pernas.
Aprende a andar, falar.

Lágrimas escorrem de meu espírito.
Inunda minha face e meu mundo.
Tão sublime. Tão magnífico!
Ela anda, ela vive.
Caminha à minha frente.
Com orgulho, prazer.

Trago em meu peito tamanha alegria
Que tento tocá-la.
Assusta-se, estapeia-me
E com tal força, sou lançado ao chão frio.
De alegria, vou ao sacrifício.
Fui ao chão de barriga e alma.

Antes que pudesse levantar-me,
Senti seus pés a caminhar sobre mim.
Sobre minha vida.
Passo-a-passo, sugava minhas energias.
Eu vivi para criá-la
E agora
Ela vive sobre meus ombros.

Sacrifico-me por inteiro
Apenas para que ela viva