Baco entre todos

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Lenha

Lenha

Sossego, quietude!
Uma calmaria após um dia de trabalho.
Depois de oito horas corridas.
Um tempo para mim.
Finalmente.

Oito horas correndo,
Oito horas trabalhando para o enriquecimento alheio,
Oito horas odiando estar ali,
Oito horas amaldiçoando,
Sonhando poder fazer o que gosto!

Um banho quente
E junto com a água vai embora todo o cansaço, todo rancor.
Deixo os cabelos livrarem-se de suas amarras.
Agora.
Um tempo apenas meu!
Sem encher o bolso dos outros.

Agora.
Satisfeito com o alimento,
Exausto com o dia,
Feliz em ser somente Meu.
O tempo. O agora. O ar. O universo.
Somente meu.

Não quero lembrar que amanhã recomeçarei tudo
Tudo novamente.
Trabalho. Cansaço. Rancor.
Nesse momento quero ser somente meu.

Aqui.
No sofá que nunca degustei.
Na sala que nunca apreciei.
Na casa que não me lembro quando...
No momento meu.
Moro. Resíduo. Residência.
Paredes pintadas.
Quadros que gostaria de ter pintado!
Arranjos que nunca irei arrumar!

Finalmente.
Um tempo meu.
Um tempo para sentir.
Sem ter de correr atrás de nada
Sem ter de aturar ninguém.
Nem caminhar,
Nem falar.
Apenas observar. Ouvir.
Meu Mundo.

E enquanto isso,
Lá fora,
Lá, na esquina,
O frio leva o sono das crianças de rua!
No mesmo momento em que bêbados são mortos.
No mesmo instante em que torturam Estudantes!

Meu mundo.
Ouvindo Elis.

“Uma mulher que merece
Viver e amar como outra qualquer...”
Enquanto mulheres vendem-se...

“Uma gente que ri
Quando deve chorar...”
Enquanto crianças são abusadas!

“E não vive, apenas agüenta...”
Enquanto mães perdem seus filhos...

“Possui a estranha mania
De ter fé na vida...”
Enquanto a noite castiga seres mortos de fome.
Enquanto homens arrancam segredos
Enquanto gays são queimados
Enquanto velhos são empurrados
Enquanto a morte chega mais cedo!

Enquanto o trem sai do trilho
Enquanto a vida julga o que é Moral
Enquanto animais são extintos...

Estou finalmente em casa
Podendo finalmente deliciar-me comigo mesmo.
No mesmo instante
Em que o planeta incendeia-se

Ouço minha música
E fecho meus olhos....
Enquanto lá fora
As tavernas estão repletas de traidores.

Sou somente meu,
No exato momento em que povos são massacrados...
Indígenas perdem suas raízes!
No mesmo momento
Em que a peteca cai e o bolo queima.

Degusto de meus bens
Enquanto os escritores são esquecidos,
Os filósofos queimados nas fogueiras,
E a fome assola a humanidade!

Prolongo meu banho
Mesmo que pessoas morram de sede.
Estranho meu momento solitário,
Mesmo que tantos vivem dentro da Solidão!
Permito-me não ter filhos,
Mesmo que vários estejam abandonados!

Apenas ouço Elis!
Mesmo que não a escutando,
Apenas ouvindo!

Esse momento finamente é Meu!
Sem trabalho,
Sem correria,
Sem contra tempos,
Sem discórdia,
Sem humanos.
Mesmo que guerras desintegrem o Oriente Médio,
Mesmo que governos mutilem sua nação.

Sou só meu agora.
Nesse instante.
E nesse instante, uma criança nasceu!

Vinicius Cassiolato
27/10/09

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